terça-feira, 16 de novembro de 2010

O ARTEIRO



O silêncio se fazia a mais de 40 minutos dentro do carro, quando Maria Eduarda cessara seu repertório de canções infantis. O carro seguia sobre a estrada mal cuidada, cortando ao meio o horizonte de laranjais, escolhida a dedo para evitar os pedágios de São Paulo.  Andressa, filha de meu padastro, conduzia o carro sem que trocássemos muitas palavras. A falta de intimidade gerava conversas rasas que não rendiam mais que meia dúzia de frases trocadas a cada 20 ou 30 quilômetros. Aceitei a carona na esperança de chegar mais cedo em Belo Horizonte e assim dormir umas horas a mais antes da primeira reunião da Bolsa Pampulha. O percurso tranqüilo quase deserto contribuiu para que o pescoço embreagado de sono pendesse pros lados, perdendo de lavada a batalha com homem da areia. Senti toque sutil em minhas costas, leve o suficiente pra me despertar. Maria Eduarda havia acordado e necessitava me deixar ciente do fato. O toque veio seguido de uma pergunta: - Você faz arte?  Andressa e eu nos entre olhamos  achando engraçado ela tocar nesse assunto. Respondi prontamente: - Sim, eu faço! -Tá de castigo!!!  Gritava ela aos risos, presa a sua caderinha no banco de trás de carro. Insistiu ela - Você faz arte? Olhei pra mãe dela que assim como eu estava achando graça de tudo. - Acho que eu to perdido Duda, eu estudei quatro anos na faculdade de arte. - Tá de castigo!!! Se vangloriava ela, como um comediante frente a piada perfeita.

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