segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ô Joacélio desocupado!!!


Algumas imagens nunca saem da cabeça, uma me atormentou por uns 3 anos. Minha avó retirava as entranhas de uma galinha.  Repugnante para muitos, para ela, usando suas próprias palavras dela: - Zefá olha essa banha. Que coisa maravilhosa!

O quer realmente minha avó via de belo naquilo ali?

Sempre tive a certeza que as imagens da matança de frangos para o casamento de minha mãe e a a beleza que minha avó enxergava acabariam em vídeo. Mas sinceramente não sabia como, uma hora ele apareceria sem avisar. Acredito que as coisas ficam na subconciente tomando forma, esperando pra acontecer.

Como de habito joguei minha camera DV no muchilão um tripé e fui pra cidade de minha avó, com planos de visitar um tio que a muitos anos não via. Queria filmar ele e seus jogos maravilhosos de contação de mentiras. Desde de criança ele e meu pai e conhecidos deles se reuniam em volta da mesa de café, disputando quem contava a mentira mais cabeluda. Sempre acompanhados pela broa da tia Marcina, responsável  pela avalanche de mémoria sensorial, que só não é melhor que o Tutú com linguiça dela.

O Grota fica 19Km de Abre Campo. Só se chega de carro. Não há linha de onibus ou van que faça o caminho, o que dificulta a visita a eles. Tinha três fitas para testar se havia ou não o embrião de um documentário. Mas o jogo não aconteceu sem a presença de meu pai. Tentamos fazer com meus primos, mas os causos contados por eles estavam muito "conteporaneos". A TV realmente faz suas vítimas. A tradição do  causo é uma delas. Pessoas como meu pai, meu tio e todos meus avós, que nasceram num cultura sem tv, são maravilhosos oradores. Sabem prender a atenção como ninguém. Ainda me sinto uma criança diante de história contada por eles.

Voltei pra casa da minha avó, com as fitas gravadas. Mas sobrara 40 minutos. Minha avó estava sobre a mira da camera. A pergunta que me atordova a tanto tempo deu sua graça e resolvi perguntar pra ela: - Vó, o que é bonito pra senhora? A resposta tá no documentário "Entre o terreiro e a cozinha".

A casa da minha avó materna representa o ultimo lugar da infância que não existe só na mémoria. Com o tempo consegui ver sobre o muro do corredor de entrada para a cozinha sem que ninguém me levantasse. Mas era como se isso não fosse verdade. De todo tempo em que frenquentei a cidade de minha avó, 60% desse tempo eu passei na cozinha ou no quintal dela. Hoje nem um nem outro existe mais. Construiram uma casa nova pra ela viver.

Gravei o que pude da casa dela no tempo que me sobrava na fita. Esperava o almoço, a mala estava pronta. Pegaria o onibus em duas horas. Aí minha avó com seu sorriso sapeca disse: - Vou ligar pra radio! Entendi a senha e ao mesmo tempo, bateu o desespero. Estava ali uma chance única de pegar minha avó demostrando afeto e não tinha nenhuma fita. Aproveitei o grito que veio da rua: -"Donaparicida!" Que a chamou a porta. Corri pro quarto. Desfiz a mochila. Precisava de 5 minutos que fosse pra filmar que iria acontecer. Tive que optar por uma imagem de meu tio em seu bar, pelo que estava pra acontecer. Escolha dificil mas necessaria. Cheguei a tempo de montar o tripe ligar a camera e gravar ela chamando a rádio.

Não sei se minha avó vê alguma utilidade no que eu faço, muito menos o que eu via de bonito na cozinha dela pra ficar filmando tanto.  Ela respeita embora me chame de "desocupado" toda vez que a gravo. Ironia pura, que sempre nos diverte. Acho q entendi o que ela vê como bonito. Também sei que ela não gostou de ver a cozinha dela exibida numa sala de cinema. Depois disso ela ficou muito cabrera quando chego com uma camera na casa dela. Aproveitei as 4 horas de viajem de volta a Belo Horizonte, para assistir todo o matérial. Cheguei e casa e fui logo capturando as fitas pro computador. O video estava pronto na minha cabeça era só juntar com as imagens que já não me torturavam mais.

Um comentário:

  1. Olá, Joacélio

    Estamos tentando por todos os meios nos comunicar com você. Me envie um email em felipe@artemov.net ou então 8370 0013

    obrigado

    ResponderExcluir