segunda-feira, 4 de outubro de 2010

VESTES RECÉM TIRADAS




O artista plástico Daniel  Saraiva, amigo de longa data, afoito para gravar uma performance em vídeo, tinha urgência de uma câmera e alguém que pudesse opera-lá.  Pela insistência dele eu fui atrás da unica pessoa que conhecia que tinha uma câmera. Consegui a Digital 8 da sony, câmera do pai da Letícia Abreu, (amiga de Belas Artes) e combinamos a gravação. Até então não tinha nenhuma experiência com câmera alguma.


Daniel recusou-se a dar qualquer instrução, qualquer guia da ação, ele dizia que o vídeo precisava ser o mais espontâneo o possível. Estava lá com uma câmera na mão e sem direção. Mirei a lente no performer sob o couro podre rastejando pelo chão.O segui sem saber o que fazer até o final, apenas tentava não perder a ação do enquadramento (não vou comentar mais pra não estragar a surpresa do vídeo). Quando eu achei que finalmente a cena estava realmente ficando boa, Daniel levantou-se subtamente, visivelmente transformado pelo ritual, pedindo para que eu parasse a gravação. Eu sem saber o que fazer desliguei a câmera. Daniel foi embora arrastando o couro por trás de si. A procissão que de bovinos o seguiu era impressionante. Por fim os animais em pesar cercaram o couro estirado sobre o arame farpado. O réquiem melancólico ecoava do mugido dos bichos era profundo e triste.


Perdemos um vídeo fantástico. Tive que aprender a lição de não desligar a câmera porque alguém pediu, sem ter certeza já não há mais nada de interessante acontecendo. Tentamos refazer a coisa toda anos mais tarde mas não chegou nem perto da experiência primeira. Daniel Saraiva segue mantendo-me alheio de suas intenções em qualquer gravação. Suas rituais performaticos continuam a me surpreender.


Daniel Saraiva / Vestes Récem Tiradas


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