Alex Linfolfo / série fragmentos
Quem inventou o lema punk, Faça você mesmo! Também poderia ter incluido mais algumas palavras e dito assim, " Faça você mesmo e conte com os amigos!". Meus primeiros trabalhos não existiriam sem a ajuda de amigos. Marcelo Terça-Nada, Letícia Abreu, Kurt Navgator, Elton Amaral e Pedrinho Peixoto, publico aqui meu obrigado pelos empréstimos e colaboração na construção dos mesmos. Mesmo com a generosidade dos amigos tem uma hora que a indisponibilidade gera a impossibilidade. Até ser totalmente independente leva um tempo, se é que algum dia poderei realmente dizer que exista tal "independência". Depois que experimentar a camera alheia para os primeiros passos no audiovisual, fica difícil, não querer fazer mais. Ter, qualquer que seja o equipamento de gravação de imagens e sons a mão, continua prevalecendo como a melhor opção.Agora portador da chama, troquei de papel e poderia possibilitar a entrada de outros amigos, também iluminados pela vontade de produzir, ao mundo do audiovisual, certo? Bem, não foi bem assim que eu fiz.
Pouco depois de formado na EBA/UFMG, Alex Lindolfo me procurou, pedindo emprestado equipamento para fazer um documentário poético sobre sua mãe. A possibilidade de materializar o imaginário Minduriense, cidade natal do videomaker, já me dizia que ai vinha coisa boa dali. Preste a ceder ao pedido, perguntei a ele: - Você tem algum equipamento pra gravar audio e imagem? A resposta veio com a descrição uma camera fotográfica digital com baixa resolução de vídeo, que não gravava audio e um mp3 player que poderia resolver essa falha em um canal mono.
Vendo essa limitação como uma potencial aliada, principalmente no fato que se ele realizasse algo com o próprio equipamento, ele poderia seguir com alguma autonomia no futuro. Disparei uma proposta sentido a cabeça do rapaz: - Porque você não faz o vídeo com o equipamento que tem, do jeito que der? Se não der certo eu te empresto minha câmera. Encafifado com a idéia Alex sumiu por uns tempos. Quando o reencontrei, ele numa postura insegura me chamou para ver o material coletado em uma visita a casa da mãe. O material mesmo "precário" em qualidade imagem, era cheio de poética, apresentando um mundo que só Lindolfo conhecia. A imagem pixelada não nos priva em nenhum momento de sua potência poética. As coisas, os gestos, os fazeres, os causos da Mãe do artista. A canção "o pai Zé acendeu a luz e o Xicuro foi embora, pai zé apagou a luz e o xicuro chegou, " nos remetem a maneira roseana de olhar para o próprio quintal e a partir de lá, expor toda sua beleza, sem nenhuma tentativa de facilitação ou aproximação de um contexto urbano. O que não significa que o vídeo seja hermetico, pelo contrario "Moça e chita, não tem feia nem bonita" (2007), é universal.
Esse é um belo exemplo de que a falta de um bom equipamento não serve como desculpa para deixar de produzir. Acredito que o desafio de produzir com limitações técnicas pode ser um desencadeador de criatividade, pra quem se arrisca nessa frente. Alex Lindolfo segue produzindo sua obra. Eu fico feliz por ele ter topado o desafio.
Alex Lindolfo / Moça e chita não tem feia nem bonita