quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O FRAME FALSO OU O ESTRANHO "CAUSO" DO VÍDEO ROUBADO!



Esperávamos ansiosos o começo de Bolívia te Extraño, era a primeira exibição publica do vídeo feito por mim e Dellani Lima, a grande tenda montada para a exibição na 12ª Mostra de Festival de Tiradentes estava tomada. O vídeo que precedeu  o nosso, "Assim que chegue o fresco o dia e declinem as sombras" (Simone Cortezão, 2008) terminou e para desespero do "Tuca", como Dellani gosta de ser chamado pelos amigos, entrou em desepero. O projeconista não notou que o "frame" congelado servia de "Claket" do trabalho e o exibiu junto. Por outro lado observei curioso que ninguém na sessão, havia percebido o ocorrido, como um erro, e disse: "Tuca, presta atenção! Ninguém sacou o erro. Se bobear amanhã vai ter critico comentando isso na internet, como algo experimental". Logo depois o Trem da Morte boliviano invadiu a sala deixando meu amigo mais tranqüilo.


Por essas "coincidências de curadoria", o vídeo que veio a seguir também foi do meu amigo, " K.O", e novamente o projecionista "incorpora" a imagem congelada, ou a claket ao modo Tuca, ao vídeo. Mais uma vez tive que segurar o sujeito em sua cadeira, Já que o erro estava consumado, não havia mais o que fazer pra resolver o malentendido.

Dellani Lima / K.O.

O final abrupto de Bolívia te Extraño colaborou e muito para que a platéia não percebesse o ocorrido. Final esse, que em outros festivais, criou o hábito, digamos, de "roubar" videos alheios  que tinha a má sorte de vir a seguir nas programações dos festivais em que participou. Dellani conta que em um desses festivais, um diretor desesperado percebendo que a platéia não aplaudiu o fim de nosso trabalho e que o mesmo havia incorporado o seu próprio, começou a gritar dentro da sala escura. "Pessoal o outro filme terminou, Já começou o outro!!"  Pra nossa surpresa, o fato se repetiu em todas as sessões onde, ninguém conhecia o nosso  vídeo préviamente.


Pra fechar o "causo do "frame falso". Passada a noite e os ocorridos, na manhã seguinte busquei na internet a já esperada e tradicional crítica dos vídeos exibidos na noite anterior.  A mesma segue abaixo:



Bolívia te Extraño


O primeiro filme de Dellani Lima apresentado na série recolhe imagens de uma trajetória pela Bolívia e investiga as texturas possíveis de som, luz e movimento nesse percurso. A música típica do charango, a hiperalvidez do famoso “deserto de sal” e, de especial efeito, o balé de cores e saias em momento peculiar do filme são exemplos distintos dessa estratégia.

O interessante é que ele se inicia com uma fotografia em contra-plongéede umas crianças em cima de uma armação de madeira e finaliza com o que parece ser uma derrapada dos carros durante a viagem pelo deserto, terminando com nova fotografia: a de uma singela borboleta.




Dellani Lima e Joacélio Batista / bolivia te extraño

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

VESTES RECÉM TIRADAS




O artista plástico Daniel  Saraiva, amigo de longa data, afoito para gravar uma performance em vídeo, tinha urgência de uma câmera e alguém que pudesse opera-lá.  Pela insistência dele eu fui atrás da unica pessoa que conhecia que tinha uma câmera. Consegui a Digital 8 da sony, câmera do pai da Letícia Abreu, (amiga de Belas Artes) e combinamos a gravação. Até então não tinha nenhuma experiência com câmera alguma.


Daniel recusou-se a dar qualquer instrução, qualquer guia da ação, ele dizia que o vídeo precisava ser o mais espontâneo o possível. Estava lá com uma câmera na mão e sem direção. Mirei a lente no performer sob o couro podre rastejando pelo chão.O segui sem saber o que fazer até o final, apenas tentava não perder a ação do enquadramento (não vou comentar mais pra não estragar a surpresa do vídeo). Quando eu achei que finalmente a cena estava realmente ficando boa, Daniel levantou-se subtamente, visivelmente transformado pelo ritual, pedindo para que eu parasse a gravação. Eu sem saber o que fazer desliguei a câmera. Daniel foi embora arrastando o couro por trás de si. A procissão que de bovinos o seguiu era impressionante. Por fim os animais em pesar cercaram o couro estirado sobre o arame farpado. O réquiem melancólico ecoava do mugido dos bichos era profundo e triste.


Perdemos um vídeo fantástico. Tive que aprender a lição de não desligar a câmera porque alguém pediu, sem ter certeza já não há mais nada de interessante acontecendo. Tentamos refazer a coisa toda anos mais tarde mas não chegou nem perto da experiência primeira. Daniel Saraiva segue mantendo-me alheio de suas intenções em qualquer gravação. Suas rituais performaticos continuam a me surpreender.


Daniel Saraiva / Vestes Récem Tiradas


domingo, 3 de outubro de 2010

A PRIMEIRA VISTA


Minha primeira experiência marcante com o video, foi uma obra que vi na Bienal de 96. Eram três palhaços deprimidos amontados uns sobre os outros, a trilha era apenas o som do palhaços respirando, era pertubador. Mexia com meu ritmo interno. Me dá calafrios rememorar a experiência daquele momento até hoje. Até esse momento a  MTV ainda era soberana nas minhas referências vídeográficas.

Em 2001, já estudante de cinema de animação da Escola de Belas Artes da UFMG, fomos em excursão para a Bienal, não me lembro de nada que tenha realmenteme marcado naquela edição. Uma outra mostra em particular, essa sim, mudou meu interesse pelo  vídeo "enquanto" arte." Estratégias do deslumbramento" que estava em exibição no  predio do Sesi na Av. Paulista. Lá eu vi a video instalação "Memória" de Éder Santos e o vídeo "The Reflect Pool" do Bill Viola. O Trabalho de Éder Santos, abre uma brecha para outra dimensão, tornando-a visível, porém intocável. O Vídeo expandido se concretizava na minha frente com os fantasmas da cristaleira.


Éder Santos / memória


Já com "The Reflect Pool" a relação foi outra, a cada volta no labirinto da galeria, meu olhar cruzava com a projeção . Era como uma pintura que mudava a cada passagem; a paisagem se mantinha, mas ações do personagem nuca eram a mesma. Por fim a curiosidade me venceu e fiquei pra ver o vídeo por inteiro. Em vão, esperei o principio e o fim do vídeo. Não me lembro de sacar o looping, estava imerso na obra em total contemplação, hipnotizado com os efeitos de trucagem cinematográficas absolutamente simples que foram usados no video.    O reflexo desencontra com o personagem que ora caminha, ora flutua congelado no ar, me fizeram perceber que a vídeoarte poderia ser algo divertido e o deslumbre me levou acreditar que eu podia me embrenhar nesse universo.



Bill Viola /  Reflectin Pool